O progresso na busca por equidade é nossa herança ancestral. Todas as mulheres que vieram antes de nós, nossas mães, avós, tataravós e assim toda árvore genealógica acima até nossas mais longínquas ancestrais estiveram juntas, contribuindo para a construção desse movimento que hoje nos permite o acesso ao direito de votar, trabalhar, estudar, dentre tantas outras revoluções diárias.

A cada geração endossamos um pedaço dessa reconstrução social, onde em uma sociedade planejada e executada através de uma ótica estrita, e com papéis pré-determinados para homens e mulheres o mais ínfimo movimento que ameace a estabilidade desta estrutura tende a ser rechaçado e torna-se assim, umas das faces de nossa herança: a luta.

O respeito às escolhas individuais e a pluralidade, amplamente discutidos como um direito concebido em nossa sociedade, na verdade não o são. Ambos estão permitidos desde que não afetem a contraditória estabilidade dos conceitos sociais e sigamos a cartilha de “coisas de menina”, “coisas de menino”, como já discutido nesta página, essa segmentação ocorrida logo após nossos primeiros segundos como viventes possui impacto severo a longo prazo.

Nosso sistema sócio-econômico sustenta conceitos e vieses que resultam em uma “máquina de desigualdade” perpetuada há séculos. Por isso, assegurar o acesso equânime a todas as áreas de estudo é uma luta pelo presente, e também um movimento de inclusão não seletiva no progresso de nossa sociedade.

A participação de mulheres na ciências e nas áreas da STEM foi por muitos anos posta como ínfima ou inexistente, mas para nossa felicidade tem sido recorrente o número de textos, publicações e relatos mostrando que não, na verdade, somos essenciais. O resgate da memória de mulheres cientistas como Marie Curie e Ada Lovelace, e a união e organização de movimentos de fortalecimento entre nós permite que não sigamos diretamente pelo ralo da desistência criado pela atmosfera de inadequação/provações bem conhecida por mulheres presentes nas STEM.

Portanto, gostaria primeiro de agradecer às mulheres que vieram antes, que revolucionaram o presente em que viviam e nos permitiram este futuro, e também as que seguem na luta hoje para a construção de uma sociedade livre e igualitária, obrigada! Em nome desse sonho, deixo também o lembrete de que nossa luta é social, é urgente e diária. A nossa liberdade só terá de fato valor quando plenamente compartilhada e por isso, precisamos seguir desconstruindo diariamente objetos de desejo, estereótipos de feminilidade e masculinidade, raciais, sócio-econômicos, o que for! Precisamos revisitar as amarras sociais em movimentos diários, sempre que possível, rompê-las e usar a ‘corda’ destas amarras para a construção da ponte que nos levará a dias de liberdade compartilhada!

Sigamos,
Izabela Paiva

(Este texto expressa minha opinião pessoal,
sem vínculo com instituições que sou afiliada.)

Crédito da Imagem: AdobeStock Imagem: ARQUIVO Nº: 341918688