Mas quem sabe matemática?

Parte I

Postado por Luana Metta
em 25 de abril de 2022

Me interessei por estudar aprendizagem matemática ao final da graduação. Perceber o quanto as crianças em sala de aula, e os adultos também, apresentam dificuldade para realizar cálculos é algo que começou a me incomodar naquela época. Porém, nas conversas com professores de sala de aula, olhando as pesquisas de educação e conversando com os amigos, os comentários que ouvia eram sempre algo como “mas quem sabe matemática de verdade?”, ou “a gente usa bhaskara pra quê mesmo?”.

E aí que vem o ponto: saber matemática vai muito além de saber calcular. Quando falamos de matemática estamos falando sobre se localizar no espaço, se programar para chegar aos seus compromissos, se planejar para execução de tarefas dentro de um tempo estabelecido.

É dentro desse contexto que compreender a base das dificuldades matemáticas se torna importante e necessário, e principalmente como o professor Jorge Falcão (2008) fala no seu livro “Psicologia da educação matemática: uma introdução” essa compreensão deve passar pelo entendimento que o contexto histórico-cultural ao qual estamos inseridos irá ter influência sobre o desenvolvimento da habilidade matemática. Mas por que eu estou falando disso?

Há cada 03 anos é realizado PISA - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, que tem como objetivo avaliar o nível educacional de 79 países ao redor do mundo nos âmbitos de matemática, leitura e ciência. O último PISA, realizado em 2018, destacou as dificuldades enfrentadas pelos estudantes brasileiros, principalmente no domínio da matemática, no qual o Brasil ficou em 57º lugar no ranking.

De acordo com o relatório, adolescentes com menos 15 anos não sabem fazer interpretações simples e nem mesmo cálculos aritméticos básicos. Aqui é importante deixar claro que esses baixos índices são referentes aos contextos de educação pública e privada. Quando nos deparamos com esses dados, podemos nos fazer a seguinte à pergunta: “então brasileiro é ruim em matemática?”

Bem, assim como existe o PISA, temos também o IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica que irá avaliar as crianças já nos anos iniciais do ensino fundamental. O resultado do IDEB de 2019 mostra, mais uma vez, que o índice de aprendizagem matemática das nossas crianças está aquém do esperado. Nesses resultados, o que chama atenção é que esse “déficit” educacional já aparece nos primeiros anos de escolarização e mais uma vez independe do tipo de escola e, nesse caso, região do país. Voltando mais uma vez a pergunta inicial: “então o brasileiro é ruim em matemática?”.

Pensar sobre essas questões faz a gente parar para analisar o que vem antes mesmo do processo de escolarização. Pesquisas mais recentes têm se debruçado sobre o papel do contexto familiar e cultural para o desenvolvimento das habilidades escolares, o que é discutido por autores como LEFEVRE et al., (2010), que debate sobre o quanto as brincadeiras e atividades dentro do contexto familiar possuem influência no processo de aprendizagem quando somos inseridos na escola.

E por que falar sobre essas questões?

Porque olhar para as nossas brincadeiras, olhar para a nossa rotina, e, principalmente, olhar para a nossa cultura, é importante para que a gente possa entender sobre o aprender matemática.

Aqui fica a pergunta para o nosso próximo encontro: será que nossas meninas e meninos brincam das mesmas coisas? E mais ainda: será que esperamos o mesmo desempenho em matemática dos meninos e meninas?

Luana Metta

(Este texto expressa minha opinião pessoal,
sem vínculo com instituições que sou afiliada.)

Referências

  1. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão. Psicologia da educação matemática - Uma introdução. Autêntica Editora. Edição: 1, Coleções: Tendências em educação matemática. Coordenadores da Coleção: Marcelo de Carvalho Borba. Mês/Ano de publicação: 06/2007.