Inspiração! É isso que sentimos, todas as vezes que conhecemos a trajetória de uma mulher do nosso passado que fez uma enorme contribuição para educação e o desenvolvimento da ciência e tecnologia no mundo e que ficou oculta na história por tantos anos. É com muita admiração que conhecemos as trajetórias de Marie Curie, Berta Lutz, Ada Lovelace, Katherine Johnson, e tantas outras.

E junto com a inspiração vem o sentimento de identificação. A representatividade tem uma influência enorme na construção da nossa identidade. Pois podemos nos imaginar ocupando lugares que outras, como nós, também ocuparam e ocupam.

E é com esses sentimentos de inspiração e representatividade que hoje gostaria de falar sobre Nísia Floresta:

Dionísia Gonçalves Pinto, educadora, escritora e poetisa, nasceu em 12 de outubro de 1810 no município de Papary, Rio Grande do Norte, e usava o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta.

Nísia Floresta contribuiu de forma inestimável para a luta das mulheres pelo direito à educação. Abolicionista, republicana e defensora dos direitos dos povos indígenas, mudou o sistema de educação de meninas no Brasil e exerceu grande influência tanto no Brasil quanto no exterior através de suas crônicas, contos, poesias, ensaios e livros.

Ao todo, produziu 15 obras traduzidas em quatro línguas, português, inglês, francês e italiano, que possuem um projeto central: "alterar o quadro ideológico social" [1]. Infelizmente, foi uma exceção em uma época em que mulheres eram analfabetas e viviam em situação de submissão e anonimato. E por isso, é comum ser lembrada como a precursora do feminismo no Brasil e na América Latina, "pois não existem registros de textos anteriores realizados com essas intenções" [1].

O principal tema de suas obras foi a educação e, por causa das influências de outros países, principalmente da Europa do século XIX, onde Nísia Floresta morou por um tempo, considerava a educação prioritária para a libertação da mulher da sua situação de opressão. E por isso, dedicou muitos de seus textos à falar sobre a importância da educação para as mulheres e a fazer críticas e denúncias ao modelo educacional brasileiro que restringia o conteúdo ensinado às meninas.

Entre 1838 e 1855, Nísia Floresta manteve um colégio no Rio de Janeiro, o Colégio Augusto, dedicado à educação de meninas, que entre suas inovações, passou a ensinar a gramática, escrita e leitura do português, francês e italiano, ciências naturais e sociais, matemática, música e dança às meninas. Enquanto que os colégios de meninas da época ensinavam superficialmente o português e noções das quatro operações matemáticas. É importante frisar que atividades domésticas faziam parte do currículo escolar obrigatório dos colégios de meninas naquela época.

Não é de se surpreender que sofreu muitos ataques e críticas tanto em relação à pedagogia adotada quanto pessoais. Foi chamada de promíscua por ter se casado duas vezes, de indecorosa, de mestiça, ao mesmo tempo em que foi considerada extraordinária, notável, pioneira e feminista. Dentre as críticas que recebeu, destaca-se a do jornal O Mercantil, de 2 de janeiro de 1847, sobre os exames finais em que várias alunas haviam sido premiadas com distinção:

… trabalhos de língua não faltaram; os de agulha ficaram no escuro.
Os maridos precisam de mulher que trabalhe mais e fale menos”.
[1]

Nísia Floresta morreu no dia 24 de abril de 1885, na Normandia, França, vítima de pneumonia, e no dia 12 de setembro de 1954 seus restos mortais chegaram a sua terra natal, Papary, e foram colocados no mausoléu construído em sua homenagem [2].

Desde 1948 o município em que nasceu leva seu nome: Nísia Floresta, localizado a 40 km da capital do Rio Grande do Norte, Natal. Possui uma população estimada de 28.200 habitantes, com destaque para a agropecuária, com o cultivo do camarão, e o turismo. A praia de Tabatinga, pertencente ao município, é comumente visitada por golfinhos ao entardecer.

E para prestar nossas homenagens a essa pioneira na educação, responsável direta por estarmos aqui, no Rio Grande do Norte, realizando esse projeto de pesquisa, nomeamos o nosso projeto com o título "Nísias na STEM".

Essa homenagem representa o tamanho da nossa gratidão e admiração pela sua luta cujo resultado hoje é desfrutado por todas nós! Que possamos nos inspirar na sua trajetória e seguirmos batalhando por equidade, pela Nísia, por nós e para todas que ainda virão!

Monica Pereira

(Este texto expressa minha opinião pessoal,
sem vínculo com instituições que sou afiliada.)

Crédito da Imagem: Não identificada, encontrada no Pinterest numa pesquisa por imagem.

Referências

  1. Constância Lima Duarte , "Nísia Floresta", Editora Massangana, 2010, 168 p
  2. IBGE, Nísia Floresta - Rio Grande do Norte - RN