A nós, agora, é permitido dizer não!
Postado por Izabela Paiva em 1° de novembro de 2021
Parte I
(Esse texto faz parte de uma sequência para discutirmos
os processos de “livre escolha”, por nós conquistado,
e sua influência em nossas jornadas profissionais)
A nós, após séculos marcados por lutas e resistência, foi finalmente permitido o direito de trabalhar. Assim, profissões foram selecionadas como “femininas”, “apropriadas para mulheres”, “ suas mãos jeitosas”, ou ainda, “emprego de suas habilidades naturais para a maternidade e cuidado”.
A nós, foram imputados papéis na sociedade e ambiente profissional pouco flexíveis e nestes, apenas nestes, é possível dizer não. É possível discordar! Um exemplo da existência presença destes espaços é a sessão de filosofia na livraria de minha cidade, toda a vastidão de mulheres pensadoras é reduzida a uma ou duas que por ventura ‘vêm a luz’ ; e pensadoras como Helena Blavatsky e tantas outras ficam às margens, padrão que aparece invertido em sessões de romance, culinária, cuidados domésticos e correlatos. Nestes espaços, podemos opinar livremente. Fora deles, ao nos posicionarmos somos instantânea e automaticamente percebidas como arrogantes e/ou insubordinadas, qualquer movimento que ouse contrapor o estereótipo ao qual estamos associadas é retaliado direta ou indiretamente.
Nas áreas das STEM, como já discutido em textos anteriores, as expectativas e oportunidades (oportunidades, que significam para nós um espaço de representatividade e resistência) a nós oferecidas também vêm precedidas por um passado de lutas e estagnadas por visões sexistas e discriminatórias, que contribuem para a sustentação de violências subjetivas e estruturais de maneira sistemática.
Nestes espaços, apresentar nossos posicionamentos, ideias ou ao direcionarmos o devido não a alguma demanda é um movimento difícil de realizar, pois, por muitas vezes somos satirizadas e testadas. E esta situação se agrava quando pensamos que ainda existem mulheres as quais o posicionamento não é respeitado ou mesmo, permitido.
Portanto, ao analisarmos a livre escolha para aceitação ou posicionamento pelo não em um contexto onde existe uma opressão estrutural, como recorrente no imposto sistema patriarcal, precisamos considerar também que ao questionarmos o posicionamento precisamos reestruturar nossa conjuntura social para que mulheres possam se expressar e possam livremente aceitar ou recusar demandas.
*STEM: do inglês Science, Technology, Engineering and Mathematics
Abraços
Izabela Paiva
(Este texto expressa minha opinião pessoal,
sem vínculo com instituições que sou afiliada.)
Crédito da Imagem: Foto original da ativista Margaret Sanger, durante show/protesto realizado em 17 de abril de 1929
Acervo: Bettmann / Bettmann Archive